fbpx

Entenda o que ocasionou a guerra entre as Coreias e por que esse conflito pode nunca chegar ao fim


  • 27/09/2020 - 12:00
  • Compartilhe:

Em 1945, a Coreia era um país unificado e dominado pelo Japão desde 1910. Neste ano, com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a derrota do Japão na guerra, os Estados Unidos e a União Soviética (URSS), durante a Conferência de Potsdam, dividiram a península coreana entre dois países, Coreia do Sul e Coreia do Norte. A dominação japonesa na Coreia chegou ao fim, porém essa divisão deu início a um novo capítulo na história coreana. O Paralelo 38 (demarcação que usa como referência uma linha imaginária que está situada a 38º da linha do Equador e onde ocorreu a rendição japonesa) foi definido para a divisão do país. Assim, o Norte ficou para a URSS e o Sul com os EUA. Vale ressaltar que os coreanos não foram consultados sobre essa divisão. Como não poderia deixar de ser, o Norte foi influenciado pela URSS e se tornou comunista, e o Sul adotou o capitalismo, como vemos até os dias atuais.

Após greves, protestos, levantes populares e, infelizmente, muitos mortos e feridos, apenas em 1948 a Coreia do Sul realizou a sua primeira eleição nacional, no dia 10 de maio. Em 25 de agosto do mesmo ano, foi a vez do Norte, com apenas um candidato em cada setor eleitoral. As eleições foram violentas, e na Coreia do Sul, e com Syngman Rhee como presidente eleito, foi estabelecida oficialmente uma República no país, no dia 15 de agosto de 1948. Na Coreia do Norte, Kim Il-Sung foi eleito, com apoio da URSS e da China, e passou a chefiar o governo comunista.

A partir de então as fronteiras foram militarizadas, pois escaramuças se tornaram comuns entre as Coreias. Em 1948, a URSS retirou suas tropas da Coreia do Norte e em 1949 foi a vez dos americanos se retirarem do Sul. Em 25 de junho de 1950, o inesperado ocorreu, com a Coreia do Norte invadindo o Sul, apenas quatro dias após os dois lados discutirem um acordo de paz. A Coreia do Norte com apoio militar e logístico da China e da URSS e, pegando o Sul de surpresa, tomou a capital Seul no dia 28 de junho e o ataque culminou em milhares de mortes. A Coreia do Sul, que não estava preparada para o conflito, não demorou muito a ser ver isolada no Perímetro de Busan, quando 90% da península estava tomada pelo Norte.

A vitória parecia certa para a Coreia do Norte, porém a Organização das Nações Unidas (ONU) interferiu e 16 países enviaram tropas para ajudar a Coreia do Sul, lideradas pelos EUA. O general norte-americano Douglas MacArthur (* 26/01/1880 – † 05/04/1964) ordenou um desembarque de tropas para um ataque anfíbio na cidade de Incheon e obteve sucesso na operação, conseguindo abrir caminho para que a Coreia do Sul empurrasse as tropas do Norte até a fronteira com a China. O resultado dessa ação fez com que a China entrasse na guerra, temendo que os sul-coreanos invadissem seu território. Com a China apoiando a Coreia do Norte com ainda mais soldados, o lado do Sul junto com as forças da ONU e EUA foram novamente empurrados para o sul da península. Em janeiro de 1951, novamente a capital Seul foi tomada pelo Norte, agora com a ajuda dos chineses, sendo reconquistada pelos sul-coreanos em março do mesmo ano. Agora, com cada exército em seu lado do Paralelo 38, a guerra passou a se manter com cada tropa sem avançar muito para o lado oposto e o surgimento das primeiras negociações de trégua.

Quase dois anos após as primeiras conversas sobre um armistício, ele foi finalmente assinado em 27 de julho de 1953. Oficialmente, a guerra ainda continua, pois nenhum tratado de paz foi assinado até os dias de hoje e, por vezes, ainda existem desentendimentos entre os dois lados, além do fato de que, em 2013, a Coreia do Norte declarou nulo o armistício assinado em 1953. Mais de 1,2 milhão de pessoas foram mortas durante a Guerra da Coreia e a “Operação Glória” no ano de 1954 possibilitou a troca dos corpos dos soldados que foram mortos nos territórios adversários. O Paralelo 38 agora conta com uma chamada zona desmilitarizada, onde está a fronteira entre as Coreias. Apesar do nome, essa é uma das fronteiras mais militarizadas do mundo.

Após os conflitos, a Coreia do Sul e os EUA assinaram um Tratado Mútuo de Defesa. Hoje, na Coreia do Sul, existem 30 mil militares americanos, além de centenas de blindados, caças, bombardeiros e outros veículos de combate. Somente nos anos 1970 a economia sul-coreana voltou a crescer, passando a possuir maior estabilidade a partir dos anos 1980. Após a guerra, o país ficou devastado, pobre e subdesenvolvido. Atualmente, a Coreia do Sul é um país desenvolvido e possui uma das melhores economias do mundo, além de ser uma potência tecnológica. Apenas para citar um exemplo, a marca sul-coreana Samsung é hoje a líder de mercado de smartphones no mundo.

Já a vizinha Coreia do Norte contou com a ajuda da URSS, China e dos países do Bloco Comunista do leste europeu para refazer a infraestrutura do país devastado pela guerra e pelos bombardeios norte-americanos. A economia norte-coreana se desenvolveu bem em um primeiro momento, mas problemas de corrupção fizeram o país decair economicamente. Hoje, a Coreia do Norte é um país subdesenvolvido e com a economia atrasada, além de ser um dos mais fechados do mundo, em parte também pelas sanções que foram impostas pela ONU.

Enquanto o Conselho de Segurança da ONU aprova novas sanções contra a Coreia do Norte devido ao seu programa nuclear, a iminência de um acordo de paz parece estar cada vez mais longe entre as duas Coreias. A dificuldade de um pacto de paz são as exigências de cada lado. A Coreia do Norte exige que tais sanções sejam retiradas e os EUA se negam, ao afirmar que a retirada das sanções podem ser usadas em favor da Coreia do Norte para mais ações nucleares. Outro fator que impede um acordo é o fato dos EUA exigirem uma completa desnuclearização do Norte, que em contrapartida exige ser reconhecido como potência nuclear plena, para poder aumentar o seu arsenal nuclear e prosseguir com seus testes e experiências nucleares. Por fim, a Coreia do Norte exige que a presença militar dos EUA seja completamente retirada do Sul e que não aceitará discutir termos de paz enquanto os EUA não se retirarem, o que não é de interesse da Coreia do Sul no momento. Sem previsão de um fim nessa guerra, que já dura 70 anos, a Coreia do Sul está aumentando a sua Força Aérea, com a aquisição de caças e também pretendem operar o primeiro porta-aviões do país, que esperam ser lançado até o final desta década.

Apesar de tudo levar a crer que os dois lados continuarão em desacordo, a nós resta torcer para que os países possam se entender e colocar um fim nessa desunião entre povos, pois afinal, são todos coreanos.