Batemos um papo exclusivo com os meninos do 2Z
O 2Z foi uma das surpresas positivas de 2020: a banda fez sua estreia em janeiro do ano passado e trouxe consigo uma sonoridade diferente para o entretenimento coreano. Em pouco mais de um ano de carreira, 2Z já lançou dois EPs, três singles digitais e se prepara para lançar seu primeiro álbum de estúdio. Para conhecer mais sobre a banda, e apresentar também um pouco do nosso bom e velho “rock BR” para eles, batemos um papo exclusivo com os meninos do 2Z.
Formado por Ho Jin (vocais), Ji Seob (guitarra), Jung Hyun (baixo), Bum Jun (bateria) e Hyun Woong (rap), o grupo fez sua estreia com “My 1st Hero”, um rock animado daqueles que fazem a gente querer cantar junto. A formação do 2Z passou por uma mudança logo em seu ano de estreia: em junho, Hyung Woon deixou a banda e Zunon passou a integrar o time com uma nova posição: no cargo de “multiplayer”, o músico assumiu os teclados e a percussão no 2Z.
Antes do 2Z, os cinco integrantes da banda trabalhavam como modelos. “Ora, mas a música, especialmente o rock, não tem nada a ver com o mundo da moda”, podem pensar alguns desavisados. A verdade é que o bom e velho rock n’ roll influenciou muito a moda, desde os tempos dos Beatles nos anos 60, do rock progessivo e do glam rock nos anos 70 e até o auge da combinação entre visuais e música pesada, com o hard rock dos anos 80. “Penso que tanto a moda quanto a música fazem parte da ‘arte’. Se expressar e se mostrar, demonstrar o ‘belo’, são características comuns”, acredita o líder e baterista Bum Jun.
A ideia de formar a banda partiu dos empresários por trás do 2Z e transformou a percepção dos artistas sobre a música. “Quando tive meu primeiro contato com um instrumento musical, foi como se estivesse desenhando algo em um papel completamente vazio. Foi estranho o primeiro contato, mas com o tempo fui me apaixonando cada vez mais. Creio que o meu interesse se deu primeiramente pelo fato dos produtores e o nosso chefe (o diretor executivo da gravadora) terem mostrado muitas músicas boas, que eles tanto amam. Tendo isso como base, pesquisei, procurei e estudei sobre a música, o que se tornou cada vez mais interessante”, disse o vocalista Ho Jin.
O 2Z começou sua carreira em um ano atípico: com shows cancelados e a indústria do entretenimento precisando se reinventar, a banda até hoje não conseguiu ter um contato direto do palco com seus fãs. “Ficamos muito tristes e chateados por não podermos fazer nada. Mas sofremos mais vendo pessoas com mais dor e sofrimento do que nós. Nós só esperamos que esta situação pela qual estamos passando, que colocou o mundo numa esfera de dor e tristeza, passe logo”, disse Jung Hyun, com sensatez. “Por outro lado, nos orgulhamos de não ter ficado para baixo diante desta situação. Muito pelo contrário, nos mantivemos fortes para continuar a fazer o que mais gostamos. Realizar cada etapa planejada, nos deu o prazer de ter uma missão cumprida e tenho muito orgulho e gratidão aos nossos integrantes e às equipes da empresa que ajudaram a dar cada passo. Penso que também foi um tempo de bastante aprendizado”, concluiu o baixista.
A paixão pela música surgiu e atiçou a curiosidade dos mais novos músicos: se era para fazer rock, era preciso conhecer mais sobre o estilo e viajar no tempo na história do bom e velho rock n’ roll. Thin Lizzy, Guns N’ Roses e Motley Crüe foram algumas das bandas que movimentaram os jovens de suas gerações e agora, conquistaram os jovens roqueiros sul-coreanos. “No mundo têm realmente muitas bandas sensacionais. Nós nascemos após o ano 2000. É uma pena não ter vivenciado o auge destas bandas e suas rivalidades”, lamenta o guitarrista de apenas 19 anos. “Quando comecei a ter mais contato com a música, fui pesquisando as raízes e percebi que tinham realmente muitas músicas boas. O sentimento passado pelo hard rock clássico pode ser diferente para cada pessoa, mas para nós, deixou uma imagem mais forte e duradoura”, disse Ji Seob, que também citou os australianos do INXS como uma de suas referências.
Perguntamos se eles gostariam de tentar um som mais pesado, como o do Motley Crüe e das bandas de hard rock dos anos 80, e a resposta foi positiva. “Claro! Pretendemos misturar vários estilos tendo o rock como base. Essas novas tentativas são sempre muito divertidas”, disse Bum Jum, que pontuou que o chamado “rock clássico” soa como algo totalmente novo para músicos tão jovens como eles.
Apesar das influências mais pesadas, o som do 2Z ainda soa como um rock “mais comportado”, na esteira de bandas mais atuais como o Coldplay e o Imagine Dragons. Mas isso não limita a relação do grupo com a música. “Se vocês forem ouvir as nossas músicas lançadas até então, são de estilos variados. Continuaremos não nos limitando a estilos musicais, tentando sempre variar. Como ouvimos bastante Coldplay e Imagine Dragons, que naturalmente nos influenciam”, disse Jung Hyun, que acredita no poder da música. “Esperamos que, pelo menos quando as pessoas ouçam as músicas do 2Z, esqueçam tudo ao redor e sintam o coração aquecido e muita felicidade. As nossas letras sempre passam ‘esperança’ e pretendemos continuar passando essa mensagem”, acredita o baixista.
Se bandas ocidentais servem de influência para o 2Z, os rapazes não deixam de resgatar e valorizar o rock asiático. Compartilhamos com a banda que sentimos uma influência do FTISLAND na música “Doctor” e perguntamos sobre as influências deles no rock da Ásia. “No caso do ‘Doctor’, nos preocupamos em ter uma boa combinação entre uma melodia mais lírica e um som mais dinâmico. Tanto os veteranos FTISLAND, quanto One Ok Rock, X-Japan ou Ozaki Yutaka do Japão são artistas que nos ensinam muito”, explica Ho Jin. “O k-pop se tornou a cara da Coreia com cores e estilos característicos e nós do 2Z também estamos procurando encontrar o nosso estilo único”, disse o vocalista
Sobre a presença do rock no cenário mainstream da Coreia, Zunon é otimista. “É verdade que o k-rock é menos conhecido que o k-pop. Mas consideramos que as músicas de instrumentistas têm uma base forte. Esperamos poder crescer como artistas que representam o k-rock, para que em um futuro próximo possamos nos tornar uma banda que os grandes veteranos da Coreia possam se orgulhar e possamos ter o reconhecimento dos calouros”, disse Zunon.
Mas o 2Z tem conseguido trazer um pouco do k-pop para o universo do k-rock. Em seu canal do YouTube, a banda já publicou versões bem executadas de hits do k-pop, de grupos como (G)-IDLE, GOT7 e BTS. “Penso que o cover para uma banda, é mostrar sua cor, seu potencial como músico, o que é muito importante. Pretendemos passar uma imagem diferente da música original deixando com ‘a cara do 2Z’, indo além do que as pessoas possam imaginar, surpreendendo-os. Vamos continuar trabalhando junto aos produtores, aprendendo e fazendo bons covers para no futuro fazer covers não somente do k-pop, mas também de músicas de diversas culturas e estilos”, disse Jung Hyun.
Essa “cara do 2Z” tem ficado mais evidente nos trabalhos mais recentes do grupo, com a adição de Zunon à formação. Responsável por instrumentos de percussão e dos teclados, Zunon é o “instrumentista versátil” da banda. “Sempre me interessei por instrumentos musicais, mas não tive muita oportunidade de aprender. Quando estava no exército, aprendi com um dos meus colegas e achei divertido. Desde então, continuei tocando mesmo após terminar o serviço militar. O 2Z trabalha com estilos variados e tenta expressar diferentes ritmos. Me inspiro nas criações espontâneas brincando com os outros integrantes”, ele nos explica.
Se falamos sobre o rock norte-americano, britânico, asiático e até australiano, não poderíamos deixar de falar sobre o som do Brasil. Perguntamos ao 2Z se eles conheciam algo da nossa música. “Conheço ‘Mas que Nada’, de Sergio Mendes. Ouvi com a participação de Black Eyed Peas, mas gostei mais da versão original”, confessa Ji Seob.
Decidimos então apresentar um pouco do “BRock”, o rock nacional para o 2Z. Separamos algumas músicas de bandas representativas da nossa cena e perguntamos qual música foi a favorita de cada um dos integrantes.
Ho Jin, o vocalista, escolheu “Proibida Pra Mim”, do Charlie Brown Jr. “Procurei um vídeo de apresentação ao vivo e me passou a sensação de querer sair correndo livremente. Gostei muito da energia forte”, disse.
Quem também foi procurar mais sobre a música foi Jung Hyun, que escolheu como a música do rock nacional favorita “Bichos Escrotos”, do Titãs. “Gostei da parte da melodia que me passou sensação de estabilidade. A combinação da bateria com o baixo me animou. A energia, sem falar da reação do público e a apresentação de todos os integrantes da banda, me deixou impressionado. Vi o vídeo de uma apresentação ao vivo no Teatro Bradesco e gostei muito do baixo acústico e violão acústico. A outra versão também era muito bonita. O riff do baixo paira ainda na minha cabeça”, disse o baixista sobre os roqueiros de São Paulo.
Ji Seob também se encantou com o rock brasileiro dos anos 80, mas optou por uma banda carioca: “Pro Dia Nascer Feliz”, do Barão Vermelho, foi eleita como sua música favorita. “Gostei muito do som do sintetizador na introdução. Achei muito divertida a combinação das sessões divididas em partes”, disse o guitarrista.
Já Bum Jun e Zunon concordam: para eles, a melhor música do rock brasileiro é “Tempo Perdido”, do Legião Urbana. “Vi no YouTube um vídeo do show e gostei principalmente do estilo que parece estar sonhando, com a combinação do vocal. Não entendo português, mas somente pelas emoções, as apresentações da banda, e vendo os integrantes expressando uma só coisa, entendi o que eles queriam passar”, disse o baterista, com bastante sensibilidade. “Tanto a letra como o que a música como foram expressadas pareciam compatíveis com a gente. E por isso senti que tinha muita coisa a aprender com esta música”, disse Zunon, sobre o som da banda de Brasília.
Mas não é só a música do 2Z que tem chamado atenção: no ano passado, o grupo foi um dos poucos da cena mainstream da música coreana a se manifestar em apoio ao movimento “Black Lives Matter”. O k-pop, como um estilo musical tão diverso, se baseia em diversas influências da música e da cultura negra, e a falta de engajamento de artistas de um estilo tão popular entre os jovens em um movimento de tamanha importância social foi pauta na época. Em meio a esse contexto, o engajamento do 2Z em movimentos antirracistas foi elogiado.
“Quando o Bono Vox, vocalista do U2, veio à Coreia, ele disse o seguinte: ‘ninguém está na igualdade até que todos estejam na igualdade’. Super concordo com isso. Não temos algo político. O que importa para nós, é somente o ‘ser, a pessoa em si’. As pessoas no mundo tem cores de pele diferentes, cabelos diferentes, olhos diferentes. Mas são apenas características físicas, todos são e devem ser tratados de forma igual. Somos um”, disse Ho Jin.
O vocalista ainda acredita que a música pode ajudar a transformar o mundo de forma positiva. “O fato mais importante é que todos que habitam a Terra são seres importantes que merecem ser felizes. Esperamos poder compartilhar um pouco mais de esperança, e que essa pequena esperança possa nos levar a um futuro mais feliz. Queremos um mundo onde todos tenham um objetivo em comum para caminhar juntos”, disse, Ho Jin, que acredita que a esperança seja sempre o elemento norteador de seus trabalhos. “Sempre tentamos variar o estilo das músicas mas o tema é sempre o mesmo. Sempre gostaríamos de passar a esperança”, afirmou.
Por fim, a banda mandou um recado para seus fãs do Brasil e fez uma comparação tipicamente brasileira. “Se formos comparar a uma partida de futebol, nós do 2Z somos uma banda com apenas um minuto de jogo. Vocês, From A (nome do fã-clube do 2Z) brasileiros, também. Ainda temos 89 minutos pela frente, então vamos caminhar juntos”, disse Ho Jin com esperança, palavra tão usada pela banda para definir o sentimento de suas músicas.