Batemos um papo com o DNA, um dos expoentes do q-pop
Quem diria que um país distante como o Cazaquistão poderia conquistar fãs aqui no Brasil? Pois é isso que o q-pop quer provar que é possível. Se antes muitas pessoas sequer conheciam muito sobre a Coreia e passaram a conhecer melhor esse pequeno país asiático por meio do k-pop, por que não se render a conhecer também outras culturas por meio da música? Essa é a proposta dos artistas do q-pop, que querem usar sua música para apresentar para o mundo a riqueza da cultura cazaque. Na semana passada, batemos um papo com o Ninety One, grupo pioneiro do q-pop, e agora trouxemos uma conversa que tivemos com o DNA, outro expoente da cena pop do Cazaquistão.
“Se o Ninety One é o pioneiro do q-pop, o DNA é início oficial do q-pop”, decreta o líder do grupo, NE1TRON.
O DNA começou sua carreira em junho de 2020, com o lançamento do single “Tumandy Qala”. Formado por NE1TRON, Pen, Ocean e Ray, o quarteto integra a JUZ Entertainment, mesma empresa do Ninety One. O líder NE1TRON explica que o nome DNA foi escolhido pelo foi escolhido por Yerbolat Bedelkhan, integrante do grupo Orda e produtor da banda. “O nome remete às nossas origens e mostra que queremos carregar as origens de nosso ancestrais e conquistar as pessoas por meio da música”, explica.
“Por meio do DNA, nós transmitimos informações para as próximas gerações. E como grupo, entendemos nossa responsabilidade com as pessoas que nos seguem. Nós queremos mostrar o caminho certo para o desenvolvimento que nossa empresa carrega em sua ideologia”, detalha NE1TRON sobre o nome do grupo e também sobre seus objetivos como artista.
A trajetória do DNA até a estreia soa muito familiar com a de vários grupos de k-pop. A banda foi formada em um programa de competição musical. “Somos todos finalistas do reality show ‘Project X’. Esse projeto deu oportunidade para muitos caras talentosos, incluindo a gente. O programa trouxe muitos desafios e surpresas para nós. Nós lutamos em uma guerra de criatividade até o fim, apesar de toda a competitividade do programa. Nós vencemos e a jornada do DNA começou com outro desafio: uma turnê de shows por 11 cidades do Cazaquistão, com o grupo Ninety One. Naquele momento, foi como se tivéssemos sido jogados em um grande oceano”, relembra Ray.
Antes de entrar na competição, no entanto, cada um dos integrantes teve diferentes relações e experiências com a música. Ray conta que fazia parte de outro grupo, o “Black Dial”, que em 2017 fez sua estreia com a música “Soile”. “Nessa época, ganhei muita experiência na música e nos palcos. Eu era vocalista e me tornei compositor do grupo. Mas infelizmente o projeto só durou um ano e meio e durou até o verão de 2018. O Black Dial foi uma grande escola para mim”.
“No colégio, eu estudava rap e me apresentava por aí. No início, eu escrevia meus raps em russo, mas depois eu me interessei nos artistas cazaques e comecei a compor em cazaque também”, fala NE1TRON, que disse que passou a levar o hip-hop a sério em 2018, quando se inscreveu no projeto “Qara Beri”, da qual saiu vencedor. “Eu ia me lançar como artista solo, mas não tenho nenhum arrependimento em entrar no DNA. Eu comecei a crescer como músico na JUZ Entertainment, trabalhando com artistas experientes. Em pouco tempo, meus colegas do DNA se tornaram meus irmãos”.
Já Ocean tem referências com as quais muitos podem se identificar hoje em dia: seu interesse pela música e pela dança começou com o k-pop. “A música era um hobby e eu tinha interesse em dançar. Meu amor pela música começou com a dança, mais especificamente com a cultura pop coreana, o k-pop. Eu gosto de como eles dançam em sincronia e como eles se comportam no palco. O desejo de me tornar um artista começou a crescer dentro de mim quando eu vi o público em um estádio gritando por artistas de k-pop”, conta Ocean que se declara fã do BTS e diz que faz parte do A.R.M.Y, fã-clube dos astros coreanos, desde 2015. “Eu vi o BTS no clipe de ‘Boy in Luv’ e percebi que eu queria ser como eles. Depois, eu comecei a gravar covers de dança, aprendi a cantar na internet e também aprendi a fazer rap”, Ocean explica sobre sua trajetória antes do “Project X”.
Assim como o colega, Pen também não tinha experiência profissional com a música antes do DNA. “Eu aprendi tudo no ‘Project X’. Foi uma surpresa para toda a minha família ver que minha vida mudou completamente, mas não me arrependo de nada, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido em minha vida”. O cantor comenta que todas essas diferentes experiências fizeram com que o DNA seja composto de diferentes referências musicais. “Mesmo estando no mesmo grupo, nossos gostos musicais são diferentes e isso nos dá a oportunidade de criar um som interessante em nossas próprias músicas. Ray e eu, por exemplo, somos fãs de R&B e de artistas pop, NE1TRON prefere hip-hop e rap e Ocean é o mais próximo da cultura do k-pop”, ele explica.
Prestes a completar um ano da estreia do DNA, os integrantes lamentam que o seu primeiro ano de carreira tenha sido marcado pela falta de eventos. “Nos primeiros meses, trabalhamos muito. Gravamos muito e fizemos vários ensaios. Infelizmente, devido à pandemia, não pudemos nos apresentar como queríamos, mas fomos um dos primeiros a fazer um show com venda de ingressos pela internet”, relembra Pen, relembrando como a indústria cultural se reinventou durante a pandemia do covid-19.
Mas o que torna o q-pop interessante o suficiente para nós, aqui do Brasil, buscarmos conhecer mais sobre essa cultura tão diferente da nossa? Pen acredita que é o sentimento de novidade que faz com que estejamos sempre interessados em conhecer algo novo. “As pessoas estão sempre em busca de algo novo. E agora a novidade somos nós. Especialmente para outros países. A música é um idioma que nos aproxima. Portanto, não devemos nos limitar a nada”, aconselha. Ray concorda com o amigo e acredita também que há sempre o desejo de se fazer algo diferente. “Nós queremos trazer algo novo para o nosso povo e para o público internacional”.
Para Ray, o que torna o q-pop tão único é a possibilidade de se ouvir uma música pop e atual cantada em um idioma que representa uma cultura centenária e ainda desconhecida internacionalmente. “O q-pop é diferente pois oferece ao público mais do que apenas música. Ele oferece sentimentos variados e remete também à gentileza e a um chamado para a paz”.
A relação entre o q-pop e a cultura tradicional do Cazaquistão é uma das principais características dessa nova cena do pop asiático e é percebida facilmente quando ouvimos uma música do DNA ou do Ninety One. As músicas dos grupos são cantadas em cazaque, idioma que divide com o russo a posição de língua oficial do país. Apesar da influência da Rússia, os grupos de q-pop defendem que a língua cazaque deve ser utilizada em suas músicas como forma de manutenção da ancestralidade de seu povo em novos contextos culturais. “Eu acho que a maior diferença de nossa música para outras indústrias da cultura pop é o idioma e é graças a ele que vocês poderão sentir a cultura do Cazaquistão. Embora a gente saiba que existe uma estrutura em comum compartilhada pela música pop de países diferentes, a música de cada nação difere uma das outras em sua forma de apresentação, em suas emoções e sua história. Nós admitimos que nossa geração, os jovens de nosso país, são mais interessados pela música ocidental. Mas quando falamos de motivação musical você poderá sentir nossa cultura, que nos foi passada por nossos ancestrais por nosso DNA”, Ocean relaciona o nome do grupo com a questão cultural do país.
Diante de artistas tão dedicados a divulgar a cultura cazaque para o mundo e ao mesmo tempo cientes sobre as diferentes características presentes na música de outros países, perguntamos ao DNA se eles conhecem algo sobre a música brasileira e sobre nossa cultura. “Claro que sabemos”, disse Ocean. “A música e a cultura brasileira são muito populares. E cultura de vocês é diferente das outras, pois é uma mistura de outras culturas ocidentais, africanas e nativas da América do Sul”, respondeu assertivamente Ocean, sobre a pluralidade cultural do Brasil. “Se falarmos de música, eu lembro que todo o mundo estava cantando junto com o Michel Teló a música ‘Ai Se Eu Te Pego’. Mas quando falamos sobre o Brasil, é inevitável pensarmos em dança e futebol. Acima de tudo, sabemos que as pessoas brasileiras são muito criativas e têm uma variedade enorme de danças, como o samba e a capoeira. E além disso, admiramos a natureza do Brasil e queremos visitar o país de vocês um dia”. O DNA também pode conhecer um pouco mais sobre o Brasil, mais especificamente sobre nossas celebridades, em um divertido vídeo em que tentam adivinhar a idade de artistas brasileiros.
O q-pop está começando a conquistar o público brasileiro e, para tornar possível que um dia eles possam conhecer de perto nossa música, cultura, natureza, e principalmente, seus fãs do Brasil, os integrantes do DNA deram a dica de como o Brasil pode acompanhar a carreira do grupo e conhecer mais sobre o q-pop.
“Eu acho que qualquer pessoa conhece um artista assistindo seus videoclipes ou ouvindo suas músicas. Como a primeira impressão é a mais importante, aconselhamos os fãs brasileiros a verem primeiro nosso clipe de estreia, da música “Tumandy Qala”. E depois poderão conhecer nossos outros trabalhos. Temos também o vlog ‘DNA Memory’, com legendas em inglês, em que mostramos nosso dia a dia e toda nossa vida. Aconselhamos também a assistirem o ‘Project X’, programa de competição em que o grupo foi formado, pois foi o momento em que nossos fãs começaram a nos acompanhar e também é um projeto muito interessante. Também estamos nas redes sociais, no Instagram, no TikTok e no Twitter e iremos estar em breve no Twitch. Estamos sempre nas redes socais e o pessoal do Brasil poderá sempre nos encontrar por lá”, aconselha Ocean.
Siga o DNA nas redes sociais:
Acesse nosso canal no Telegram e receba atualizações sobre o mundo do entretenimento asiático