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Entrevista exclusiva: Lucy defende diversidade do rock coreano e elogia Família Lima


  • 30/04/2021 - 15:50
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Para a Highway Star, Lucy falou sobre sonoridade e experiências na cena alternativa

Se você é daqueles que não dispensa uma boa música com belas melodias e instrumentais bem trabalhados, o Lucy é certamente uma boa pedida. Formado por Shin Ye Chan (líder e violinista), Cho Sang Yeop (vocais e guitarra), Cho Won Sang (baixo e produção) e Shin Gwang Il (vocais e bateria), a banda que integra o time da gravadora Mystic Story foi formada em um reality show. O “SuperBand” foi ao ar na JTBC em 2019 e reuniu diferentes músicos da cena alternativa coreana para formar grupos musicais. Na competição, o Lucy ganhou o segundo lugar, mas fora do reality o quarteto segue firme e forte, agora com o apoio de uma grande empresa do cenário musical coreano.

O início da trajetória do Lucy foi diferente do caminho habitual que os artistas fazem para ingressar em uma gravadora da cena mainstream da música sul-coreana. No k-pop, é usual que os artistas sejam treinados por gravadoras, para depois assinarem contratos e formarem um grupo. O Lucy fez o “caminho inverso”, em uma trajetória mais parecida com a de bandas ocidentais: cada um dos integrantes tinham experiências musicais anteriores e se uniram para formar a banda no “SuperBand”. Apenas depois eles assinaram com uma gravadora. O único que já fazia parte da empresa e ingressou na cena como trainee, como é usual entre os artistas do k-pop, foi Shin Gwang Il. “Eu já era trainee na Mystic Story. Eu tive algumas dificuldades nesse processo, mas conheci o Lucy no ‘SuperBand’, e foi assim que comecei a me divertir fazendo música novamente”, explica.

“Shin Gwang Il já fazia parte da Mystic Story e o Sr. Yoon Jong Shin (cantor, produtor e diretor executivo da Mystic Story), que era um dos jurados do ‘SuperBand’, gostou da gente. Foi como se as engrenagens se conectassem e daí surgiu nossa conexão com a Mystic Story”, explica a banda sobre sua transição da cena alternativa para uma major, como são chamadas as grandes gravadoras da indústria musical. Mas antes de assinar o contrato, os integrantes do Lucy construíram sua própria história com a música e trazem diferentes experiências como músicos da cena alternativa. 

“Originalmente, o baixo era um instrumento que meu pai e eu costumávamos tocar como hobby desde que eu estava no colégio. Então parece que o baixo veio naturalmente para mim”, explica Won Sang, o produtor do Lucy. “Depois, eu comecei a trabalhar em estúdios. Queria estudar um pouco mais, então estudei composição e MIDI (controlador para produção musical), e foi assim que me tornei produtor”

“Comecei estudando violino erudito na 3ª série do ensino fundamental. Depois que fui dispensado do exército, me preparei para o vestibular para estudar música clássica, mas comecei a me divertir tocando na rua. A partir daí, comecei a me dedicar a eventos na rua e em outras atividades”, diz Ye Chan, violinista do Lucy e responsável pelo instrumento que dá a cara ao som da banda. A mistura de pop rock com o toque erudito do violino que Ye Chan traz para o Lucy vem de família. “Graças à formação da minha mãe como cantora erudita, eu naturalmente me aproximei da música clássica desde que era criança. Depois disso, eu comecei a tocar na rua, então me interessei ainda mais pela música”.

“Eu estudava engenharia. Comecei a fazer música tocando na rua e comecei a me apresentar na cena alternativa. Eu também trabalhei para uma empresa que faz músicas incidentais e trilhas sonoras de drama”, conta Sang Yeop. “Eu fui para o exército e eu tinha certeza que eu podia me dar bem fazendo música. Foi assim que comecei”, ele lembra.

Um dos integrantes do Lucy possui uma relação próxima com um de nossos países vizinhos. Gwang Il morou alguns anos no Peru, quando era adolescente, por causa do trabalho de seu pai como missionário. Ele lembra dessa época como sua aproximação com a música, mas também traz lembranças difíceis desse período. “Quando eu era adolescente, passava mais tempo com instrumentos musicais do que com meus colegas quando eu morava no exterior (no Peru). Naturalmente, aprendi a tocar muitos instrumentos musicais e comecei a gostar de música”, ele conta. “Eu tenho memórias muito importantes do Peru, pois eu morei lá por cerca de seis anos e estudei parte do ensino fundamental e médio lá. Eu tive alguns problemas com discriminação racial, e às vezes isso é algo que ainda me machuca, mas espero que outras pessoas não se machuquem com isso no futuro”, confessa. A discriminação racial contra asiáticos é sido amplamente discutida e o respeito pelas pessoas asiáticas é algo que tem sido defendido por diferentes artistas da música coreana.

Apesar de trazer lembranças difíceis de antigas experiências e das dificuldades da vida de um músico, o Lucy se esforça para fazer de sua música algo que ajude o ouvinte a se sentir melhor. “Nosso trabalho tem muitas canções que buscam transmitir mensagens de conforto e esperança. Em particular, ‘Flowering’ busca transmitir conforto e esperança a muitas pessoas”, explicam. Se a mensagem que o Lucy quer passar é de positividade, nada mais justo que todos possam compreender seu significado. Pensando nisso, os músicos lançaram em uma versão de “Flowering” interpretada em linguagem de sinais. “A linguagem de sinais foi usada para cantar para que mais pessoas pudessem conhecer ‘Flowering’”, disse o grupo, sobre a importância da inclusão.

A positividade do Lucy é percebida até mesmo pelo nome da banda: “Lucy era o cachorrinho que vivia no antigo estúdio que usávamos no início (da carreira). Nós não éramos os donos dele, mas passávamos mais tempo com ele do que os donos, então era o nosso cachorro mascote”, Won Sang explica. “Todos os integrantes amam muito os animais. Especialmente Cho Won Sang, que tem três poodles marrons”, acrescenta Ye Chan.

O nome também significa “luz” e tem um sentimento neutro, por isso parecia ser algo que quebraria alguns preconceitos ao ser usado como nome de banda. Então passamos a usar o nome Lucy”, conclui Won Sang.

O resultado é uma combinação de melodias harmoniosas, mensagens positivas e uma bela composição instrumental, executada por talentosos músicos. O toque especial do Lucy, certamente, é o som do violino executado por Ye Chan. Segundo o instrumentista, a mistura sonora entre o pop rock da banda com o som clássico do violino surgiu de forma natural, quando no “SuperBand” eles decidiram dar destaque ao violino no lugar da guitarra elétrica. “E foi a partir daí que o estilo musical atual do Lucy foi criado”, disse o violinista. Outro diferencial do grupo é o uso de paisagens sonoras para compor suas melodias. Conceito que vem sendo transformado em diferentes estudos, a ideia de paisagem sonora pode ser entendida como uma manifestação acústica de sons que dão sentido ao lugar, onde a acústica é construída pelas atividades urbanas, ou seja, com o som como resultado da interação entre lugares e pessoas. Em seus trabalhos, o Lucy busca sons urbanos e da natureza para ajudar a compor suas peças sonoras. “Ao fazer a música, procuramos algo que traduza mais diretamente a mensagem e o humor que desejamos transmitir”, explica o grupo sobre o uso de diferentes recursos na composição musical.

Os integrantes do Lucy acreditam que esse estilo único da banda faz com que seu estilo possa navegar por diferentes estilos musicais. “Há músicas emocionantes e intensas como ‘Jogging’, ‘Hero’, ‘Flare’ e ‘Go to Awaken Watermelon’, mas também há músicas calmas e emocionantes como ‘Enough’, ‘Farther and Farther’ e ‘Missing Call ‘. O próprio estilo do Lucy eu acho que é uma característica de ser capaz de digerir qualquer gênero. Acho que nosso humor também é algo que pode te dar um toque oriental ou às vezes um estilo pop do ocidente”.

Se o assunto é diversidade musical, não poderíamos deixar de apresentar um pouco da música brasileira para o Lucy. Nada mais justo, portanto, do que apresentar uma banda que possua alguma similaridade com o estilo dos rapazes: mostramos para eles a banda Família Lima, grupo do Rio Grande do Sul e que mistura diferentes estilos musicais com a música erudita. Famoso também pelo uso do violino, o som da Família Lima chamou a atenção dos integrantes do Lucy. “Foi como entrar em um novo mundo, com uma maneira de mesclar o som do violino de maneira muito agradável”, disse Sang Yeop. Won Sang concordou com o colega e mencionou como se sentiu inspirado pelo som da banda brasileira.

Essa diversidade, para a banda, é algo característico do rock sul-coreano. Estilo que muitas vezes é ofuscado pelo sucesso das músicas pop da Coreia do Sul, para o Lucy, o rock coreano tem muito a mostrar para o mundo. “O rock coreano é tão diverso quanto das bandas estrangeiras. Temos bandas que exploram uma maior sensibilidade, mas também temos bandas que possuem a força do punk ou que expressam suas filosofias por meio de sua arte de diferentes outras formas”.

Em meio a esse cenário, para apresentar-se ao mundo mainstream e se destacar em uma cena em que o rock não é o estilo de maior destaque, os integrantes do Lucy preferem apostar na sensibilidade. Dentre suas inspirações, os integrantes citam suas vivências ou estado de espírito. “Normalmente me inspiro muito quando leio um livro ou leio boas frases”, disse Sang Yeop. Won Sang, o produtor da banda, foi mais além para citar o que lhe inspira a fazer música: “Minha vida, experiências e pensamentos ocultos nas profundezas do inconsciente”. Ye Chan, por sua vez, disse que se sente inspirado principalmente quando está em um belo lugar. Já Gwang Il brinca e fala que prefere compor quando “está de barriga cheia”.

Quando o assunto é inspiração musical, cada estilo de música merece um tipo de atenção específica. Sang Yeop, que costuma compor músicas para dramas, explicou sobre seu processo de composição para esse tipo de canção. “Eu tendo a assistir dramas para perceber a cena antes da música tocar. Eu acho que é muito importante interpretar a cena para definir que tipo de música se enquadra ali”, explicou o músico, sobre a importância da relação entre a música e o mundo da ficção televisiva.

“Eu sempre gosto de começar a compor de um jeito diferente, incluindo letras, acordes, melodia e arranjos, não começo sempre do mesmo jeito. E, surpreendentemente, dependendo da direção que você toma quando começa a compor, a música acaba saindo com um estilo diferente, como se tivesse sido feita por outra pessoa. Sou inspirado pelos pensamentos e emoções que senti em minha vida, pelas habilidades e experiências musicais e pelas melodias que surgem lá no fundo da minha cabeça. É como se passasse um vídeo na minha cabeça. O vídeo é sobre que tipo de clima, situação, emoção e com quem você está, e você faz música pensando no que mais combina com essa situação que surge na sua mente”, explica Won Sang sobre seu processo criativo como compositor.

Perguntamos, então, qual é a principal diferença para os integrantes do Lucy entre ser um artista da cena alternativa e trabalhar em uma grande gravadora da indústria fonográfica. Para eles, a grande vantagem de fazer parte de uma major são as oportunidades. “Acho que a maior diferença é que agora conseguimos promover o Lucy melhor para os fãs estrangeiros. Acho que é um lugar onde melhores oportunidades podem aparecer para nós”.

Se você também quer dar uma oportunidade para uma banda composta por talentosos músicos, que buscam por meio de sua música, passar uma mensagem positiva para seus ouvintes, dê uma chance para o Lucy. “Ainda não sabemos que tipo de música estará em nosso próximo álbum, mas nos orgulhamos de fazer músicas que os ouvintes brasileiros também vão gostar. Um dos desejos de Lucy é fazer uma turnê pela América do Sul quando a pandemia amenizar, então espero que esse dia chegue logo!”, comentou a banda. 

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